Sou daqueles que acha que a escultura está dentro da pedra, escondida pela rocha, e que o trabalho do artista é libertá-la. Sou dos que acham que as idéias estão no ar e que o talento consiste em canalizar as melhores delas e trazê-las para o mundo. Penso o mesmo dos textos e até dos números sorteados na Mega-Sena. Eles estão lá. Você só tem que ter a habilidade de jogar luz nas letras certas, ou nos números mágicos, no caso do sorteio.
Hoje convivo com isso no meu dia-a-dia no trabalho porque, dentre outras atribuções, preciso fazer títulos da melhor, mais chamativa, mais sintética, mais engraçada e mais explicativa maneira possível. Claro que nem sempre consigo combinar tudo isso. O espaço é limitado e a imaginação também. Mas quando olho para o retângulo em branco que tem que se transformar no chamariz para a matéria já escrita abaixo e tentar resumir a ideia (idéia já de acordo com o o novo acordo ortográfico. Que saco...) dela, sempre tenho a impressão de que o título certo já está ali. Escondido por detrás daquele branco todo. Eu tenho é que lapidar para fazer as letras certas formarem as palavras corretas, que vão compor a melhor chamada. Quando o chefe muda o título que fiz para um melhor e eu penso "Droga! Por que não pensei nisso?", para mim, aquelas palavras já estavam ali. Era só uma questão de tirar os pedaços brancos certos para descobrir qual era o melhor título.
E enquanto escrevia tudo isso eu estava, na verdade, vendo se conseguia esculpir as ideias que me ocorreram no banho, agora há pouco. Quando pensava sobre o momento histórico que o mundo vive e todo o simbolismo que carrega a posse do novo presidente do Estados Unidos, Barack Obama, que assumiu o poder ontem, dia 20 de janeiro de 2009. Pra mim, neste momento, não importa o ceticismo, ou até o realismo, de quem sabe que a mudança não acontece da noite para o dia. De que há um longo caminho a percorrer e que não há nenhuma garantia de que vá haver um "happy end" no final.
O mais importante é que no meio daquela democracia louca do país que é o mais poderoso do mundo e que, querendo ou não, tem grande influência sobre os caminhos que o mundo todo vai tomar, os americanos conseguiram esculpir o mais belo resultado, depois de anos de obscurantismo. Semanticamente é fantástico que um negro venha de forma quase messiânica tentar tirar os Estados Unidos das trevas, da escuridão.
Torço muito para que esse sonho sonhado há tanto tempo e que se fez realidade ontem possa seguir num caminho positivo. E que nós, por aqui, possamos crescer e seguir também a caminho da prosperidade. Que se salve o planeta, as pessoas e a economia. E citando o bordão, que a esperança, depois de vencer o medo, se transforme em realidade. Sólida como a rocha e bela como uma escultura renascentista. Desejo boa sorte.
E vamos nós trabalhar aqui.
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10 comentários:
Quando vc passa lá, é sinal de tem coisa boa por aqui, mesmo que seja sem corretor ortográfico. Querido, seu texto me fez pensar num dos momentos mais marcantes da minha vida: a hora em que eu dei de cara, em plena Florença, com o original de Davi, de Michelangelo. Assim, como vc falou, Michelangelo dizia que Davi já estava dentro daquela pedra e que ele - o artista - só tirou as sobras e o ajudou a se libertar. Está certo que é muito difícil a gente sair esculpindo Davis por aí mas, como vc mesmo disse, ele está por aí, em vários lugares, sob inúmeras formas. Basta a gente nunca desistir de procurar! Grande beijo, Bella.
Pois é. Estou eu aqui tentando continuar na blogosfera. Confesso que às vezes me perco. Mas seu exemplo como escultora das palavras e amiga atenta sempre me inspira.
Beijão
Gostei do "salvem o planeta, as pessoas e a economia"! rsrs
Sem dúvida a idéia é esculpida e mesmo que seja numa pintura. No meu caso as idéias vão se sobrepondo a base de pinceladas e o interessante é que, de maneira geral, o histórico das idéias anteriores fica visível para os olhares mais atentos. Com as palavras esse histórico, penso, só pode ser visto em conjunto, no desdobramento que lapida o texto deixando-o mais preciso... sempre bacana ler seu blog...Daqui à pouco, pelo andar do cinzel, leremos um Davi por aqui... abraços
estava já com saudade dos seus textos tão carregados das suas ideias, que eu adoro.
falando em ideias, idéia é muito mais bonito com ´.
Que se salve o planeta, as pessoas e a economia =)
Tá difícil conjugar isso, né meu primo?
Valeu pelo comentário, Klaus. Sempre marcante. Mas espero que algo próximo a um Davi seja impresso. hehehe
Todo apoio Maria. idéia sem acento é alguma outra coisa, que não é uma boa idéia. Mas vamos ter que nos acostumar... Beijos
Gabriel, fiquei aqui pensando agora se realmente as ideias e as grandes invenções já estejam predestinadas de alguma forma... E acho que aposto na linha mais protagonista e determinista do Homem. Pensar que "tudo" já esteja aí mesmo, faltando apenas estar posto, acho que seria subestimar a razão e o gênio criador de cada ser humano. Pegando o próprio exemplo de Davi, se não tivesse sido esculpido por Michelangelo, outro (ou nenhum) "personagem" teria sido criado a partir da mesma rocha... Portanto, Davi não estava pronto em algum lugar, dentro ou fora da pedra, mas dentro, sim, do artista renascentista que o eternizou. E, nesse sentido, acho que as coisas, se elas pré-existem, estão dentro de cada um de nós – o que evidencia a importância do que o próprio Renascimento lançou como "individualidade"... Abração!
Eu concordo com você Sérgio. Na verdade, o que quis dizer não é que as coisas estejam já pré-determinadas, mas que gosto da ideia de que as ideias estão no ar. Mas claro que só a genialidade individual e a razão de cada um é que é capaz de trazer ao mundo um Davi, uma Guernica, ou uma Monalisa.
Abraço!
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